quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Porque você não deveria comprar um Sony Ericsson Liveview. Nunca.

E foi ao ar pelo fórum PDA Brasil ou Simplesmente PDABR, um dos maiores Fóruns do Brasil em assuntos de tecnologia, com enfoque em dispositivos móveis, este excelente artigo que trago pra vocês leitores do nosso blog.
Durante a leitura, descobriremos suas experiências com este gadget meio esquisitinho e porquê devemos passar longe dele nas vitrines..



"Na semana passada eu procurava inspiração para o primeiro artigo dessa coluna. Minha ideia inicial era rever a minha imensa listas de celulares/smartphones pretéritos e criar um ranking. Mas, o destino mudou meu curso quando, no meio de uma arrumação da “gaveta das tralhas”, eu encontrei o meu liveview, parado há mais de três meses, entre capinhas de celular, cabos de dados genéricos, mouses sem fio e toda sorte de acessórios digitais em desuso.

Antes de falar especificamente sobre o liveview, eu gostaria de contextualizar minha experiência com ele: Antes de ser o jovem cheio de garbo de 28 anos de hoje, eu fui, pasmem, uma criança gordinha que nasceu na metade dos anos 80 e adquiriu autoconsciência no início da década de 90. Foi o melhor e o pior dos tempos. Quem compartilhou comigo esse dias passados, certamente sabe que o píncaro da tecnologia portátil daqueles anos eram notebooks que custavam milhares de reais, agendas eletrônicas e celulares analógicos (sim, os celulares foram analógicos um dia) de 500 gramas que disputavam o mercado com uma acirrada corrida de para ultrapassar a marca de 20 contatos na agenda telefônica.

Dito isso, volto a mim, que com 6 ou 7 anos já era apaixonado por esses pequenas tecnologias, mas não dispunha de recursos financeiros que eram impreteríveis para qualquer um que quisesse estar em sincronia com aquela era de nascimento da computação móvel.

Um relógio digital, era, portanto, o limite das minhas possibilidades quando se tratava de algo que pudesse, ainda que precariamente, armazenar, exibir ou processar informação digitalmente. E nesse contexto, cada pequena bobagem importava: quantidade de alarmes, função de calculadora, backlight, e até barômetro eram funções perquiridas - ainda que naquela tenra idade eu não tivesse a menor noção do que era pressão atmosférica e suas repercussões cotidianas. E, mesmo diante de todos esses desejos, o máximo que consegui na vida foi um relógio com calculadora, que me rendeu horas e horas de diversão e um punhado de entreveros acadêmicos, naqueles anos dourados em que os desafios da minha vida resumiam-se à álgebra.

Bom, escrevi tudo isso pra mostrar o quanto a ideia de um relógio inteligente estava arraigada em minha história, e, assim, o quanto a ideia de um relógio com o poder de um smartphone me fascinou quando descobri o liveview. Eis como a SonyEricsson destruiu meus sonhos de criança:

Introdução:

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O liveview é uma caixinha de 35X35mm, que lembra muito um monitor CRT da Samsung dos idos de 2003 que uso no trabalho. Nessa caixinha, um display OLED com cores extremamente lavadas e resolução digna de celular de 70 reais, e dois botões físicos, um com a função “power” e outro com a função “select”. Arrematando o conjunto, uma pulseira de velcro e nylon que sustenta-o no braço do orgulhoso proprietário.

O bom:

É preciso reconhecer que o liveview faz tudo que promete, e mais. Não só ele serve de display secundário para o smartphone, com ele também é capaz de desempenhar algumas funções ativas, como efetuar ligações, disparar a câmera ou enviar um sinal de localização do aparelho principal. 

Entre as promessa cumpridas, estão a possibilidade de checar entradas no calendários, posts do twitter, entradas e textos do e-mail, e, de forma bem limitada, atualizações do facebook.

Além do mais, a despeito do reduzido tamanho, o aparelhinho aguenta bem um dia inteiro de uso (ainda que a SE prometa 4 dias, algo completamente fora da realidade) e tem um design que, se não é brilhante, é bastante pratico e esteticamente aceitável.

O ruim:

Existe algo fundamentalmente ruim com a proposta do liveview: para um aparelho que se propõe a ser um pratico segundo display para seu smartphone, ele dá muito trabalho. Não há, efetivamente, nada de prático nele. Nada que possa ser feito nele mais rápido que em um smartphone bem configurado. 

Para começar, ele é um relógio ruim. Não ter um controle de tempo autônomo faz com que o liveview não seja nem capaz de mostrar a hora se não estiver pareado com o smartphone. Isso significa que, se você for ao banheiro e esquecer o celular na mesa do trabalho, não vai nem poder cronometrar seus 15 minutos de descanso no troninho. Essa dependência absurda pelo link com o celular, ainda vem ao custo da parca e valiosa bateria de um smartphone com Android, os quais, ARM (Antes do Razr Maxx), nunca foram sinônimos de perseverança.

Para piorar, mesmo pareado, ele está sempre apagado, sendo obrigatório o uso de duas mãos para ativar um dos dois botões físicos só para responder um clássico “tem horas, amigo?”.

Tudo isso é bastante ruim, mas é possível fazer um exercício mental e se convencer que o liveview é um “smartwatch” e que, por isso, a função de relógio pode ser preterida para viabilizar a parte inteligente da coisa. Afinal, ele pode ser uma porcaria enquanto relógio, mas nenhum Tissot nesse mundo é capaz de informar o que a sua tia gorda está comendo agora.

Mas ai vem...

O pior:

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Não há dúvidas que o liveview seja um relógio inteligente (há dúvidas de que ele seja um relógio, mas isso é outra conversa). Mas, o maior drama aqui não é a capacidade do aparelho, mas a maneira com que se extrai, ou não, tamanha sapiência.

A interface de liveview é muito ruim, Tão ruim que dói. Você navega através do menu principal através de uma série de toques nas extremidades do aparelho, mas a sensibilidade do dispositivo é tão sofrível que te faz sentir saudade das telas resistivas dos celulares de outrora. Aliás, para além de uma tela resistiva, o touchscreen do liveview está mais para aquele controle de TV sem baterias que a gente aperta até sair sangue da unha pra conseguir tirar do Faustão.

Mas essa ainda é a parte feliz da experiência do usuário em que ele está funcionando. E como são raros estes momentos...

Eu diria que o meu aparelho tem um defeito insuperável e o enviaria para a assistência técnica se todos os comentários vinculados ao liveview na Internet não corroborassem a minha experiência: parear ou manter pareado um liveview é uma arte.

Em um dos meus poucos dias de uso normais com ele, eu devo ter perdido pelo menos uns 45 minutos da minha preciosa experiência terrena nessa empreitada. Ora o celular não encontra o liveview, ora o liveview não encontra o celular, ora ninguém vê ninguém. E quando finalmente alguma coisa funciona, não tardará muito até a conexão cair ou travar. É como aquele romance "Ensaios sobre a cegueira": as vezes, no escuro, você topa com a Alice Braga dando sopa e algo mágico acontece. Mas maior parte do tempo você só anda tateando pelas paredes e pisando em cocô.

A conclusão:

A impressão que fica é a de que o liveview é muito mais um brinquedo, um truque para mostra para os amigos, ou a materialização de um sonho de criança que, como tantos outros sonhos, são muito melhores na idealização que na realização. Ele não amplia, não melhora e nem facilita nenhuma das funções do seu smartphone, e, por isso, fica difícil encontrar qualquer razão para utilizá-lo.

Quiçá então a razão para pagar 50 ou 60 dólares por ele..."

* Fotos por HTC One X.
* Texto por Augusto Bonetto.


Créditos: Fórum PDABR (PDA Brasil), Colunista Sr_Batata (Tópico)