terça-feira, 7 de maio de 2013

Por que o iPhone 5 que custa R$ 403,00 em componentes e montagem é vendido no Brasil por R$ 2.600,00?


Capitalismo tupiniquim

postado em Artigos | Istoé




03/2013
Por Ricardo Amorim


Segundo estimativas da empresa de pesquisa de mercado IHS iSuppli, os componentes de cada iPhone 5  de 16GB custam R$388,00 e sua montagem R$15,00, totalizando R$403,00. Ao conhecer esta informação, a maioria dos brasileiros tem dois tipos de reação. Uns ficam indignados com os lucros abusivos da empresa. Outros a defendem, apontando custos não computados, como distribuição e impostos, por exemplo. Portanto, os lucros seriam “normais”.

Efetivamente, no Brasil os impostos respondem por uma parcela significativa da diferença. O mesmo aparelho que é vendido por R$1.265,00 nos EUA, custa R$2.600,00 aqui. A maior diferença vem de impostos. No Brasil, ao comprarmos um iPhone, pagamos dois, um à Apple, outro ao governo.

Além disso, em nossa sociedade que demarca diferenças socioeconômicas pelos padrões de consumo, os consumidores dispõem-se a pagar preços que, em outros países, fariam o produto encalhar. Isto permite que as empresas tenham margens de lucro mais elevadas aqui.

Estas distorções não afetam apenas o preço do iPhone, mas de tudo que compramos aqui. Pelo preço de uma Ferrari 458 Spider no Brasil, compra-se o mesmo carro, um apartamento e um helicóptero em Nova York.

Devido ao péssimo uso dos recursos arrecadados, nossos impostos elevados causam-me particularindignação, mas outra distorção brasileira preocupa-me ainda mais. Associamos lucros a bandalheira e, portanto, margens de lucro altas precisam ser limitadas ou, no mínimo, justificadas.

Nos EUA, o iPhone  que custa R$403,00 para ser produzido é vendido por R$1.265,00. Mesmo descontando impostos – ainda que menores do que os nossos – e outros custos, sobra à Apple uma margem de lucro gorda, explicando porque ela se tornou a mais valiosa companhia do planeta. Lá, lucratividade elevada é considerada mérito pelo trabalho bem feito, neste caso particularmente em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e marketing. Por aqui, o lucro é o capeta, razão de desconfiança e vergonha.

Se não mudarmos nossa mentalidade, o Brasil nunca será um país rico. Ou acabamos com as distorções de nosso modelo econômico ou seremos o país do futuro do pretérito. Ao contrário do que pensam muitos, a valorização do lucro não precisa ser antagônica à melhora do padrão de vida da população como um todo. Aliás, pode e deve ser exatamente o contrário, como provam os países nórdicos.

No Brasil, isto teria de começar por uma intromissão muito menor do Estado na economia. É napromiscuidade do público com o privado que surge a maioria das distorções que mancham a percepção da opinião pública brasileira quanto ao lucro. Em uma economia onde o Estado é onipresente, com frequência é mais lucrativo ser amigo do rei do que acertar as decisões empresariais ou inovar. A partir daí, lucro vira pecado.

Infelizmente, o contrário tem acontecido. Nos últimos anos, o montante de recursos que o Estado desvia da iniciativa privada através de impostos tem aumentado, assim como as intervenções na gestão de empresas públicas e privadas. Salta aos olhos o papel crescente do BNDES. Capitalizações com recursos públicos superiores a R$300 bilhões desde 2008 permitiram que ele se tornasse um acionista importante em várias grandes empresas brasileiras. Além do risco aos cofres públicos, este processo reforçou a percepção de que temos um capitalismo de compadres. Muda Brasil, enquanto é tempo.


Apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ, presidente da Ricam Consultoria, único brasileiro na lista dos melhores e mais importantes palestrantes mundiais do Speakers Corner e economista mais influente do Brasil segundo o Klout.com.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Como é a vida com Google Glass; confira teste feito pela Folha


POR FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES






"Uau!" É minha primeira reação quando a telinha do Google Glass acende em cima do meu olho direito e, surpresa, mostra as horas.
Já quando me olho no espelho, a impressão é: "Ai...". A novidade é futurística e tem incrível potencial, mas há um quê de cafonice em andar nas ruas com um trambolho na cara.

A
 Folha teve acesso a uma das 2.000 unidades da versão Explorer que a empresa começou a vender na última semana pelo equivalente a R$ 3.000. Só pôde comprar quem se registrou no Google I/O 2012, evento para desenvolvedores. Por enquanto, ainda está em fase de experimentação e com pouca conectividade on-line.O aparelho é uma das tecnologias mais aguardadas dos últimos anos e deve chegar ao mercado em 2014. O preço salgado e o estilo inusitado colocam em dúvida o sucesso, sem contar as questões de privacidade.
O Glass parece um par de óculos, mas sem as lentes e com um computador acoplado com câmera, microfone, tela e uma barra sensível ao toque que serve de navegador. O Google tem ensinado pessoalmente os novos compradores. Passei quase duas horas com dois funcionários entusiasmados que configuraram o aparelho e me ensinaram os primeiros passos.
Para ligá-lo, basta um gesto para trás com a cabeça ou um toque na barra. Na sequência, é só dizer o código mágico: "OK, Glass". E algumas opções surgem na tela: você gostaria de pesquisar algo no Google, tirar uma foto ou vídeo, fazer uma ligação? Tudo é ativado por voz ou com toques na barra. Há também um pequeno botão só para fotos e vídeos.
No começo, é tanta informação que o processo fica caótico. Cheguei a tirar fotos sem saber, a deletar outras por engano e mandar vídeos para pessoas aleatórias.
O Google domina o universo, pelo menos por enquanto. É preciso ter Gmail para a configuração, e amigos na rede social Google+ para compartilhar fotos ou vídeos. É preciso também um smartphone sempre à mão, conectado via Bluetooth, para receber e-mails marcados como importantes e ligações.
Para quem tem celular com sistema Android (do Google), dá para mandar mensagens em texto (ditando) e usar o aplicativo de navegação GPS com comando de voz, coisas que ainda não funcionam no iPhone, da Apple.
Circular pelas ruas com o Glass chama atenção. Quando faço um vídeo ou revejo fotos ou vídeos, a pessoa à minha frente vê que algo se passa na tela, sem saber o quê. Para Eric Schmidt, presidente-executivo do conselho da empresa, a sociedade terá que desenvolver uma nova etiqueta social para acomodar o Glass. "É óbvio que não é apropriado usá-lo em certas situações", diz.
Mark Hurst, da Creative Good, alerta para a quantidade dados privados aos quais o Google terá acesso. "A experiência de ser um cidadão, em público, vai mudar", diz.
Entre outros alertas, o manual informa que o Glass não deve ser usado por menores de 13 porque pode "prejudicar o desenvolvimento da visão". Ele é recomendado para esportes, mas não é à prova d'água (aguenta, porém, um pouco de suor).
A empresa diz que a bateria dura o dia todo, mas não com uso muito frequente.
CONCORRÊNCIA
Há um ano a Apple ganhou a patente de dispositivo semelhante ao Glass, mas até hoje nada foi confirmado.
Já o Baidu, maior site de buscas da China, diz que trabalha em um protótipo, mas sem previsão de lançamento.
A Microsoft, apesar dos rumores de um produto para 2014, nunca confirmou nada.
*
24H COM O GOOGLE GLASS
Fotos Fernanda Ezabella/Folhapress
9h
Não dá para usar meus óculos normaiscom o Glass. Coloco as lentes de contato. O aparelho foi configurado após duas horas no escritório do Google. Sozinha levaria um dia todo.
Fernanda Ezabella/Folhapress
10h
Meu marido se assusta com o brinquedo, faz piadas e pede para testá-lo. O Glass tem um "modo convidado", para que outros possam usar sem ver meus dados
11h
Recebo um alerta de notícia no Glass. É o aplicativo do jornal "New York Times" (único disponível fora os do Google e do Path, uma rede social familiar). Peço para o aparelho ler para mim. Funciona, ainda que numa voz truncada
12h
Na rua, as pessoas me olham com frequência. Me sinto esquisitona, meio alienígena. Caminhando, tiro foto e tropeço. Paro antes de atravessar a rua e fico olhando para o alto, na telinha, absorvida nas inúmeras opções. Mais gente parece me olhar
Fernanda Ezabella/Folhapress
13h
Vou caminhar no parque. Mesmo com sol forte, consigo ver a telinha. Coloco a lente escura do Glass, que veio junto com outra transparente sem grau. Fico bem mais discreta. Filmo todo mundo e ninguém parece perceber. Sinto falta de ouvir música: o aparelho ainda não se conecta com rádio
14h
Depois de um tempo, esqueço que estou usando o Glass. Uma amiga me liga e atendo sem precisar usar o celular, que está conectado com o Glass via Bluetooth. Recebo nele qualquer telefonema, mas só posso ligar para números cadastrados
Fernanda Ezabella/Folhapress
15h
Dirijo e faço um vídeo ao mesmo tempo. É tranquilo, mas não recomendo aos facilmente distraídos
16h
Tento fazer um hangout, uma videoconferência via Google+ (rede social do Google), mas não funciona. Tento três vezes, mas nada
17h
Muitos vídeos e fotos aleatórias depois, a bateria morre. Volto para casa e coloco-o para recarregar
Fernanda Ezabella/Folhapress
19h
Vou treinar roller derby, um esporte de contato sobre patins. O aparelho sobrevive bem e faz ótimas imagens em ação
Fernanda Ezabella/Folhapress
21h
No jantar, um garçom me pergunta o que estou usando. Tiro uma foto do meu sanduíche e mando para uma amiga. Mexendo nas fotos, mando duas sem querer para outro amigo. É bem sensível. E só dá para compartilhar com pessoas que estão no Google+
22h
Estou com a maior dor de cabeça, talvez por causa dos óculos, talvez por causa das lentes de contato. É hora de desligar a mente.


Fonte: Coluna "Tec" Jornal Folha de São Paulo
POR FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES